Relatório de think tank de sustentabilidade aponta que empresas do setor investem hoje mais de R$ 30 bilhões para melhorarem sua imagem pela associação com o esporte
Empresas do ramo de combustíveis fósseis investem atualmente 5,6 bilhões de dólares — R$ 30,4 bilhões — em mais de 200 acordos de patrocínio a entidades esportivas, principalmente do futebol. É o que aponta o relatório “Dinheiro Sujo”, publicado nesta semana pela organização “The New Weather Institute”, dedicada à transição para um modelo econômico sustentável para o planeta.
O futebol é líder no ranking de modalidades com mais acordos com empresas de combustíveis fósseis. De acordo com o levantamento da “The New Weather Institute”, são 59 contratos, no valor total de 994,5 milhões de dólares, portanto mais de R$ 5,4 bilhões.
Por outro lado, os esportes motorizados são os que mais recebem investimentos de companhias do tipo: 2,8 bilhões de dólares, o equivalente a R$ 15,6 bilhões.
Empresas desse setor são acusadas de usar esse tipo de patrocínio, ou seja, de se associarem a marcas esportivas, para melhorar suas reputações — manchadas pela contribuição direta para o aquecimento global e, consequentemente, a crise do clima. É o que se configura como “sportswashing” (lavagem pelo esporte, em inglês).
— As empresas petrolíferas que estão atrasando a ação climática e jogando mais lenha na fogueira do aquecimento global estão usando o velho manual das grandes empresas de tabaco e tentando se passar por patrocinadoras do esporte — afirmou Andrew Simms, codiretor do NWI.
A Aramco, empresa nacional de petróleo da Arábia Saudita, foi identificada como a companhia com o maior patrocínio esportivo: quase 1,3 bilhão de dólares, ou R$ 7 bilhões, em 10 acordos. A Aramco será uma das principais parceiras da Fifa na empreitada da Copa do Mundo de 2034, e promete muito dinheiro pelos próximos 10 anos.
A “New Weather Institute” destaca que muitos desses acordos de patrocínio apresentam falta de transparência sobre os valores envolvidos, a duração e as condições de contrato. O documento lembra que o craque argentino Lionel Messi tem acordo de 25 milhões de dólares, por três anos, com a Arábia Saudita para promover o turismo ao país.
— Recentemente, a licença social do esporte tem sido cada vez mais apropriada por companhias de óleo e gás, ansiosas por se alinharem a momentos de inspiração e com atletas lendários, para se desviarem do dano que provocam. Não só ao esporte, mas ao planeta — afirmou Craig Foster, ex-capitão da seleção de futebol da Austrália.
A queima de combustíveis fósseis, como petróleo, óleo e gás contribui para 75% das emissões de gases do efeito estufa, que provocam o aquecimento global.Segundo estimativas das Nações Unidas (ONU), a crise climática pode custar 300 bilhões de dólares em 2030.