Agora técnico da França, Henry quer ser campeão em casa depois de 26 anos

 A quatro meses do pontapé inicial dos Jogos de Paris 2024, o técnico da seleção olímpica francesa Thierry Henry conversou com a FIFA. 

  • O Torneio Olímpico de Futebol Masculino de Paris 2024 começa no dia 24 de julhoFrança e Estados Unidos fazem o jogo de abertura no Estádio de MarselhaThierry Henry, ambicioso treinador francês, bateu um papo com a FIFA

  • Inquieto e imprevisível nos tempos de atacante de Monaco, Arsenal e Barcelona, Thierry Henry mantém a mesma postura nas entrevistas que concede hoje em dia. Sem papas na língua e com um discurso apaixonado, o treinador da seleção olímpica francesa conversou com a FIFA a quatro meses do pontapé inicial do Torneio Olímpico de Futebol Masculino dos Jogos de Paris 2024.Consciente de estar sob os holofotes, Henry tem o olhar intensamente fixado no seu objetivo: ele quer o ouro e tentar fazer o país inteiro vibrar neste meio do ano, 26 anos após a Copa do Mundo que a França sediou e venceu em 1998. Emocionado, ele lamenta nunca ter disputado a competição olímpica como jogador e confessa ter chorado quando a sua geração foi eliminada pela Itália antes dos Jogos de Sydney, em 2000.Agora, como técnico, Henry terá a oportunidade de escrever mais um capítulo da história do futebol francês, depois de ter protagonizado algumas das suas mais belas páginas — do primeiro título mundial às conquistas da Euro 2000 e da Copa das Confederações de 2003. “Não sabemos até onde vamos chegar, mas faremos tudo para buscar esta medalha em casa”, promete o ex-goleador que também passou por Nova York, uma cidade que “sempre o cativou”. A última vez que a França conquistou o ouro olímpico aconteceu há 40 anos, em 1984 em Los Angeles. A espera tem sido longa, mas, como diz um ditado americano, paciência e determinação conquistam tudo. 

FIFA: Os Jogos de Paris 2024 começam daqui a quatro meses. Está sentindo a pressão aumentar no país?

Thierry Henry: Sim, há bastante entusiasmo. Pressão? Sim, necessariamente. Pelo que a seleção francesa fez nesses últimos anos, a pressão surge assim que você veste a camisa. Você tem a obrigação de representar bem o seu país. Nós esperamos para estar nesse tipo de situação porque, para começar, passamos de 1978, quando ficávamos contentes em participar da Copa do Mundo, a 2022, quando nos decepcionamos com a derrota nos pênaltis [contra a Argentina na final no Qatar]. Portanto, há um caminho que foi percorrido. Agora, será preciso tentar buscar essa vitória.

Há algumas semanas você declarou que visa o ouro em Paris. É isso mesmo?

É isso, mas não quer dizer que vamos conseguir. Existe uma distância entre o que você visualiza e o que fará no final. Há equipes no caminho que vão te impedir de chegar aonde você quer chegar. Mas acho que, em algum momento, é preciso visualizar alguma coisa. Se não, aonde você vai? Você quer o quê? Você põe o que na cabeça dos jogadores? A seleção francesa, os Jogos Olímpicos, na França — tudo bem. E depois? Você vai chegar lá? Espero que sim, mas isso não pode ser uma certeza. Dizer que eu visualizo o ouro pode incomodar algumas pessoas, mas isso não é arrogância nem excesso de confiança. É só que, em algum momento, é preciso que a gente vá buscar isso. É como quando um cara sobe uma montanha. Ele visa o cume, ele visa o topo da montanha. Depois existem as etapas. É preciso parar, respirar, acostumar o corpo. Você não sobe uma montanha para parar no primeiro degrau.

Você disputou uma Copa do Mundo em casa em 1998 com o sucesso que conhecemos. Qual é a sensação de comandar a seleção francesa 26 anos depois e jogar uma grande competição diante da sua torcida?

A minha geração tinha a possibilidade de jogar a Olimpíada. Não nos classificamos porque fomos eliminados pelos italianos, que também tinham uma geração boa como a nossa, e isso sempre ficou entalado aqui (mostrando a garganta). Vivi outras coisas depois, mas isso sempre ficou aqui… Eu não sabia que um dia eu estaria à frente de uma equipe para poder treinar em casa e ganhar um título extraordinário. É uma das únicas coisas que não pude fazer na vida. É simplesmente louco pensar que, 26 anos depois, eu me encontro numa situação como essa.

Na sua opinião, haverá uma vantagem em estar em casa?

Recentemente, vi de tudo. Se você olhar para os Jogos Olímpicos, no futebol, não há muitas equipes que ganharam em casa. Mas se você olhar a última Copa Africana, foi a Costa do Marfim que ganhou em casa, e o mesmo vale para a Copa da Ásia, onde o Qatar ganhou em casa. Nós perdemos a Euro 2016 em casa, mas ganhamos a Copa do Mundo de 1998 e a Euro 1984. Vimos os brasileiros perderem a Copa em casa em 2014, e os alemães em 2006. Então, será que ajuda? Sim, ajuda, não vamos mentir. Eu me lembro de 98, no aeroporto, havia um entusiasmo e isso é normal. Claro que isso ajuda, mas também pode nos bloquear se for um pouco demais em termos de emoção. Às vezes você quer fazer tão bem que de repente desmorona. Então vai ser preciso controlar bem isso, também.

Existe alguma equipe que você vê chegar longe em Paris, além da França?

Sempre há surpresas, mas eu diria as equipes sul-americanas. Estamos todos correndo atrás delas. Simples assim. Porque quando você olha as últimas premiações, é uma vitória esmagadora da parte deles. Quanto a nós, vamos tentar ver com as outras nações como podemos pará-los, porque são eles, os sul-americanos, que ditam o tom.

Se você precisasse destacar o desempenho de um esportista nos Jogos Olímpicos, homem ou mulher, dentre todas as modalidades, quem seria?

Marie-José Pérec, simplesmente. Se lembrarmos da corrida dos 200 metros em Atlanta, onde era preciso vencer Merlene Ottey, ninguém achava que era viável. Todo mundo sabia que ela era imbatível nos 400 metros. Mas descer e ir buscar Ottey em 200 metros (admirado)… Foi uma dobradinha histórica para uma pessoa verdadeiramente lendária, para mim.

Youri Djorkaeff nos lembrou recentemente que vocês têm em comum o fato de terem jogado no Monaco, terem sido campeões mundiais em 1998 e campeões europeus em 2000, além de terem atuado em Nova York. Que lembranças você guarda da passagem por lá? 

Foi um momento extraordinário, de verdade. É preciso saber que eu geralmente sempre passava as minhas férias em Nova York. Desde cedo, em 1994, 1995, 1996. Não como todo mundo. Agora, todos os jogadores vão para Los Angeles ou para Miami. Eu ia para Nova York, e a cidade não era destino para jogador de futebol. Sempre foi uma cidade que me cativou e ainda me cativa. Tive a oportunidade de jogar com os Red Bulls, de morar no Soho em Manhattan. Desde pequeno eu sabia que acabaria na MLS. Eu queria ir jogar em Nova York, isso estava muito claro na minha mente. A gente precisaria de mais uma hora para poder falar de Nova York. Foi incrível poder viver lá, jogar futebol e ter participado um pouco do desenvolvimento daquela liga e daquele clube.

Voltando às suas funções como técnico de seleção, como você se descreveria como treinador? Qual é o seu estilo de jogo? 

Tentar ter a posse de bola, subir o jogo, pressionar. É claro que, quando você se encontra nesse tipo de situação, você deixa muito espaço atrás e é preciso gerenciar bem a transição, sobretudo na perda de bola. Como vocês podem ver, no futebol moderno, assim que se perde a bola é possível ser feito de bobo bem rapidamente. Para mim não existe ciência exata para ganhar. Pode-se muito bem vencer competições sem ter posse de bola. Eu adoro subir o jogo, adoro tentar ter a bola. Há equipes de tempos em tempos que podem tirá-la de você. Você consegue se adaptar a isso, também? É preciso tentar permanecer no que você gosta de fazer e convencer os seus jogadores. Isso é o mais difícil. Porque você pode estar convencido, mas às vezes alguns jogadores podem pensar de outro jeito, porque eles jogam de forma diferente nos seus clubes e isso lhes traz resultados. Então é preciso tentar criar esse espírito “Time França” e ir em frente.

fonte: FiFa.com

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