Ednaldo continua sob fogo de seus opositores por trás das cortinas, amparado pelos aliados que fez enquanto tentava sobreviver
É raro, mas acontece: a CBF acertou. Ao espremer os Estaduais de janeiro a março de 2025 e priorizar as competições nacionais no calendário mais difícil da década, o primeiro a ter o super Mundial de Clubes da Fifa, a confederação aliviou um pouco o problema. Bem, até aqui você e todo mundo que tenha lido o caderno de esportes na semana passada provavelmente já sabia. Mas há um jogo político por trás dessa decisão que merece ter suas cortinas abertas.
Ednaldo Rodrigues é o presidente da entidade e, desde o fim do ano passado, está sob a mira de opositores. Tentaram tirá-lo do cargo por via judicial e não conseguiram. Ele foi salvo no último minuto, no STF. Pois bem. Uma das pessoas que pretende assumir sua posição é Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol. Não era ele o responsável pelo golpe, mas o cartola bem que tentou, com apoio de clubes, valer-se dele para chegar ao trono.
Dias atrás, quando a CBF anunciou o calendário com os Estaduais espremidos em 2025, quem ficou irritado? As federações do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul também não gostaram da decisão, mas, em particular, o detrator de mais impacto foi Reinaldo, representante de São Paulo. Por um motivo óbvio: os contratos de direitos de transmissão e patrocínios do Paulista são prejudicados quando a competição é apequenada perante o calendário do futebol.
Logo, veja o que está além das notas oficiais, Ednaldo não apenas bancou uma decisão que colocou a CBF em rota de colisão com três federações expressivas, ele feriu aquele cartola que tem se movimentado para substituí-lo na liderança da entidade nacional. Também é um jogo político. A sorte do futebol é que, desta vez, por força da criação do Mundial de Clubes e pela necessidade de adaptar o calendário de 2025 à realidade estrangeira, a solução foi benéfica.
O ponto de interrogação agora é o que fará Reinaldo, após a derrota. Além dele, como pensam seus aliados. A agência Livemode, por exemplo, é a responsável por fazer com que o Paulista gere dinheiro por meio dos direitos de transmissão. Com os três meses ruins do calendário, janeiro a março, e a alta probabilidade de os clubes jogarem o Estadual com times em ritmo de férias, o produto que já era ruim fica ainda pior. Motivo de desgosto? Por esse lado, sim.
A Livemode também é sócia dos clubes na venda dos direitos de Séries A e B, na LFU. Sabe quanto ela precisa arrecadar com esses direitos já em 2025? R$ 1,9 bilhão. Um calendário que privilegia os campeonatos nacionais é um alívio. Só o que faltava era ter que fazer todo esse dinheiro com o Brasileiro estourado pelo Mundial, para que o Paulista reine até o fim de abril. Volto ao ponto: clubes e intermediários lamentam a derrota da federação paulista? Difícil.
A ambição de Reinaldo de se tornar presidente da CBF se torna cada vez mais improvável. Já Ednaldo conseguiu mudar o estatuto da entidade para permitir duas reeleições ao cargo, em vez de uma, o que pode estender a sua permanência nele até 2034. O dirigente baiano continua sob fogo de seus opositores por trás das cortinas, amparado pelos aliados que fez enquanto tentava sobreviver, na ação que chegou ao STF. E ele tem resistido ao fuzilamento. Segue o jogo.
Por : Rodrigo Capelo
fonte: https://oglobo.com