Técnico cita falta de treinamentos e mudanças no futebol mundial para explicar jogos mais equilibrados, mas chama responsabilidade e promete Brasil na final da Copa: “Podem me cobrar”
Cobrado por um nível melhor de atuação da seleção brasileira, o técnico Dorival Júnior pede tempo e mostra confiança em um desenvolvimento da equipe a longo prazo.
Em entrevista nesta segunda-feira, véspera do duelo contra o Paraguai, em Assunção, pela oitava rodada das Eliminatórias, Dorival falou sobre as mudanças no futebol mundial e também citou a falta de tempo para treinar:
– Não adianta criar ilusão para o torcedor, não vamos dar espetáculo do dia para a noite. Isso demanda tempo, daqui a pouco ali na frente vamos encontrar caminho. É um trabalho bem diferente do clube, onde no dia seguinte você começa a corrigir o que foi apresentado, melhorar os pontos positivos. Na Seleção, não. Depois que acabar o jogo, dois ou três vão para Londres, Danilo vai para Itália, Dorival e comissão vão para o Rio de Janeiro. É um trabalho completamente diferente – argumentou.
– Tivemos dois dias de treinamentos para poder jogar contra o Equador. Ontem e anteontem, recuperação. Hoje um trabalho leve para estar em campo amanhã. É o que temos. Em outros momentos era diferente, hoje o futebol está muito igual, quem estava lá embaixo conseguiu chegar nas equipes de cima, e quem estava em cima estava perto do limite – completou Dorival.
Ao mesmo tempo em que pede paciência, Dorival chama a responsabilidade. O treinador encerrou a entrevista coletiva desta segunda com uma frase de efeito:
– Podem esperar que estaremos na decisão da Copa do Mundo. Podem me cobrar!
A partida desta terça será a décima de Dorival à frente da Seleção. Apesar de reconhecer a necessidade de evolução, o técnico fez um saldo positivo de seu trabalho até aqui:
– Percebo evolução como equipe, não em qualidade de espetáculo. Como equipe estamos encontrando caminho, estamos fortes na retomada de bola, na volta depois da perda da bola, quando o adversário troca dois ou três passes e esboça uma transição. Estamos mais agressivos nessa retomada. Como equipe acredito que tenhamos evoluído, faltam detalhes perto da área adversária, uma opção mais confiável, jogada individual que possa ter desequilíbrio, detalhes que são fundamentais e que talvez não tenha acontecido até esse momento.
Dorival não falou abertamente sobre a escalação que levará a campo contra o Paraguai, mas indicou que fará a mudança esboçada no treino desta segunda: Endrick no lugar de Luiz Henrique.
A provável escalação do Brasil é: Alisson, Danilo, Marquinhos, Gabriel Magalhães e Guilherme Arana; André, Bruno Guimarães e Lucas Paquetá; Rodrygo, Endrick e Vini Júnior.
A Seleção ocupa a quarta colocação das Eliminatórias, com dez pontos, oito a menos do que a líder Argentina. Já o Paraguai é o sétimo, com seis pontos.
Caminho para evolução
– O caminho é não gerarmos uma expectativa excessiva, mesmo entendendo que ele viva um grande momento. Fizemos assim em outras oportunidades com outros atletas, tanto nesta última janela de Copa como nas anteriores. Às vezes, geramos uma expectativa excessiva e nós mesmo daqui a pouco nos decepcionamos. Esse equilíbrio que temos que contar. Temos que ter paciência. Estamos passando por um momento de reformulação que todo mundo pediu. Todos os torcedores que nos encontravam nas ruas pediam uma reformulação, rejuvenescer o time, e isso se faz com equilíbrio e calma. Nunca vi em equipe nenhuma montar um time e encontrar resultados e caminhos. O futebol passa por momentos no mundo todo onde estamos vendo uma ordem ser alterada. A Itália ficou duas copas fora da disputa e isso pode acontecer a qualquer momento com equipes sul-americanas de ponta. A Argentina mesmo quase ficou fora e decidiu a vaga com a Austrália na repescagem. Um momento como esse, quando estamos buscando um novos caminhos, não passa por resultados imediatos. Pode até vir a acontecer, abortos acontecem, mas não é a maioria. A revolução de seleções sul-americanas que tiveram um crescimento muito grande nos últimos oito, doze anos, faz com que a nossa disputa se torne muito mais difícil e complicada.
– Aqueles resultados alcançados anteriormente dificilmente vão acontecer. Temos que galgar degraus para termos um resultado competitivo e protagonista. Esse é o trabalho que não vai acontecer do dia para noite, não podemos iludir o torcedor. Isso vai acontecer, mas demanda tempo e amadurecimento dessa estrutura que está sendo muito mexida e ali na frente vamos encontrar um caminho. É um trabalho bem diferente do clube, quando você joga num dia e no seguinte já está corrigindo o que foi feito e apresentado. Na Seleção, não. Dois ou três vão para Londres, Danilo vai para Itália, Dorival e comissão vão para o Rio de Janeiro sentar na frente da televisão. Aqui, tivemos dois dias de treinamentos para pegar o treinador, hoje fizemos um trabalho leve para jogar amanhã. Tentamos aproveitar ao máximo o período. Em outros momentos, era diferente. O futebol está muito mais equilibrado, quem estava embaixo está mais próximo de quem está em cima. Temos que nos acostumar com isso.
Endrick
– Era uma possibilidade que existia já para a primeira partida, não aconteceu, mas senti muita falta de um homem um pouco mais centralizado e que busque atacar os espaços da última linha adversária. O Endrick tem essa característica, precisa de adaptação, mas é quem mais se aproxima desta função.
Pressão por resultados
– Essa pressão não diminui em momento nenhum, seja com derrota ou vitória, isso não se altera. A camisa da Seleção ela requer alcance de resultados rápido e desenvolvimento. E é nisso que trabalhamos. Tivemos ali apenas um alívio por determinado momento. No dia seguinte, já estávamos vendo o que melhorar. Independentemente do resultado, há erros e acertos que gerem dúvidas e certezas. É em cima disso que trabalhamos diariamente. Um resultado positivo é só um alívio. O que vai nos dar uma segurança maior é chegar ao objetivo principal que é chegar na decisão da Copa do Mundo daqui a dois anos. Esse é o compromisso de todos nós.
Ajustes no ataque
– Em termos de posicionamento, equilíbrio, ocupação de espaços, temos feito muito bem. Estamos pecando no ataque a última linha, numa individualidade que desequilibre, numa troca de passes em profundidade. Isso que está faltando e nos preocupa, é natural. O posicionamento inicial a Seleção tem. Boa postura, defensivamente passa poucos apuros, no segundo tempo quando perdemos a posse de bola conseguimos ter o domínio da partida. Acredito que isso já é algo positivo, ter um pouco mais o domínio da partida. Precisamos elevar esse domínio para o jogo em sua totalidade, e com isso buscarmos a criação. O que nos falta neste momento é justamente o que sempre fizemos com maestria, é interessante, mas é o que está acontecendo.
Busca por uma referência na frente
– Um homem de referência com mobilidade para mim é o ideal. O Pedro tem isso e muito. Pensamos no nome do Pedro desde a primeira convocação e ele sabe disso. É um jogador que é perfeito para o momento. Senti muito pela lesão que ele teve. Perdemos uma opção muito importante, mas o principal é o sentimento a ele ser humano Pedro. Posterior a isso, seria muito importante pelo momento que vivemos e completaria o que estamos desenhando. Do Rodrygo, a última coisa que eu quero é que ele seja referência, porque não tem essa característica. A mobilidade que ele tem no Real, a inteligência, a infiltração, é tudo que que quero que ele faça na Seleção e possa executar movimentos sem a necessidade de cumprir um tipo de função. Para que ele possa usar o que tem de melhor, como vinha jogando com Vini e Bellingham na frente ajudando na recomposição da sua equipe. Eles têm liberdade no meio para frente, foi isso que propusemos quando colocamos os dois mais próximos. Com Endrick, ele abre um pouco mais para ser posicional com liberdade de movimentação.
O que esperar contra o Paraguai?
– O que temos que ter consciência é de que no campo adversário temos que ter um pouco mais de paciência, a rodagem de bola é fundamental para espaçar as linhas adversárias e isso às vezes queremos encurtar o caminho para chegar no gol. É um desafio ainda termos um pouco mais de paciência nessa troca de passes para espaçar a última linha adversária. Em muitos momentos contra o Equador, conseguimos balançar bastante a última linha e o gol saiu de uma jogada que pontuamos ao Rodrygo, para ele flutuar em cima do zagueiro centralizado para receber livre, limpar a jogada e fazer a batida em gol. Os caminhos estamos tentando encontrar através das análises. O principal é encontrarmos a melhor decisão em campo de maneira equilibrada para executar determinadas jogadas. Esse é o ponto que nos desafia.
Cobrança aos mais jovens
– De um modo geral, não estou descontente de maneira nenhuma com o grupo de atletas que convocamos desde a primeira convocação. Ninguém nos decepcionou e isso é um ponto muito positivo. Até o último dia da convocação, temos uma dúvida ou outra justamente para não cometermos erros. Pensamos até o último instante na importância de cada um, no nome de cada um, em quem pode render em partidas. São jogadores que estão me dando respostas muito positivas, esses garotos que estão chegando. O Luiz começou a última partida, não começa agora, mas fez uma ótima exibição pelas características de seu clube. Temos que ter paciência, mas ter paciência no futebol é efêmero. O que me deixa confortável é que a Seleção está fazendo jogos com uma entrega e um comprometimento muito grandes. Se alinharmos isso a técnica apurada que temos, ao caminho para chegar o gol, vamos encontrar o equilíbrio tão sonhado por todos nós.
Goleada sobre o Paraguai na Copa América
– É a impressão que fica pelo resultado alcançado, mas não acho que foi a melhor partida da Seleção na Copa América. Mas saíram os gols e passa a impressão pelo momento. Ali, o Paraguai teve oportunidades, o que não aconteceu em jogos que não tivemos posse, como contra a Colômbia. Para nós, a equipe do Paraguai exigiu bastante. Temos que fazer um jogo ainda melhor e temos que ter uma equipe consciente, entendendo que é um adversário mordido, que está sendo cobrado como nós e que também precisa encontrar um caminho. É um jogo onde quem tiver mais equilíbrio vai conquistar um resultado melhor. Espero que o Brasil jogue com confiança, com a bola, e busque movimentos de infiltração que possam ser mais repetidos para encontrar caminhos.