Treinador revela preocupação dos jogadores com familiares enquanto partida contra a Colômbia era adiada por invasões em Miami: “Não conseguimos ficar alheios a isso”
Seis anos de trabalho, quatro títulos conquistados e um lugar entre os maiores. Lionel Scaloni já marca uma era no comando da seleção da Argentina. Após a conquista de mais uma Copa América, o treinador se derreteu por seus comandados e fez críticas ao cenário caótico com que a decisão contra a Colômbia foi disputada em Miami.
Bicampeão da Copa América, campeão da finalíssima e também da Copa do Mundo do Catar, o comandante argentino tratou como merecida a vitória de sua equipe por 1 a 0 sobre a Colômbia, neste domingo, em Miami, gol de Lautaro Martínez. Para Scaloni, já a partir da segunda parte dos 90 minutos a Argentina fez por merecer sair campeã.
– Não sei se marcamos uma era, mas é uma equipe que não deixa de surpreender. Se recupera nas dificuldades em uma partida difícil, contra um rival muito complicado. Não fizemos um bom primeiro tempo, melhoramos no segundo e merecemos ganhar.
“Na prorrogação a equipe deu um algo a mais e é gratificante vê-los jogar. Estou eternamente agradecido por eles”
Scaloni relatou ainda os bastidores da mais de uma hora de atraso para o início da partida por conta de invasões e falta de segurança no acesso ao estádio. O treinador deixou claro que o episódio interferiu na parte mental de seus jogadores, que estavam em busca de informações sobre os familiares.
– É difícil de explicar, de entender. Os jogadores uma hora de pé fora do estádio para ver os familiares e tivemos que jogar assim.
– Tivemos a sensação de não saber como estavam nossas famílias, alguns não respondiam e não conseguíamos ficar alheios ao que estava acontecendo. Assim que nós, e também os colombianos, entramos em campo. É algo muito difícil.
Com o quarto título da era Lionel Scaloni, a Argentina chegou ao 16º troféu da Copa América e se tornou o maior vencedor da competição. Com quatro conquistas em sequência, a Argentina terá em 2025 mais uma finalíssima diante da Espanha, campeã da Eurocopa. Antes, volta a jogar pelas eliminatórias em setembro, contra o Chile, em casa. A equipe lidera a competição com 15 pontos.
Confira outros trechos da entrevista
Relação com Messi
Não gosto de falar só dele, porque no final das contas todos os que estão aqui e os que não estão… Como Paulo Dybala, que é muito especial, e não tê-lo convocado me parte o coração. Se falo só de Leo seria equivocado, porque gosto de todos de uma maneira especial. Quando não trago alguns jogadores, é um problema que temos por que somos todos muito próximos. Então, tanto Leo como outros jogadores significam muito para nossas vidas, eles mudaram a nossa alegria, a nossa cara nesses últimos anos. Daqui a dez anos vamos nos juntar para comer um churrasco e lembrar esse momento. É isso que fica marcado.
Substituições que fizeram a diferença
São mudanças pensadas para a equipe melhorar. Não é que estávamos mal fisicamente, mas Alexis tinha amarelo, Julian não parava de correr… Sabíamos que Lautaro ia marcar se tivesse uma chance, Lo Celso tem o último passe, e Paredes está sempre conosco. Foi um gol merecido, porque Lautaro sofreu por eu tê-lo tirado do time mesmo fazendo gol. Certamente não estava feliz comigo, e com razão, mas eu pensava que a equipe tinha que jogar assim. Acabou que ele nos deu o triunfo e sou eternamente agradecido.
Problemas nos Estados Unidos
Acredito que para começar os campos devem ser maiores. As que jogamos não tinham as dimensões de um campo de nível para este tipo de competição. Entendo que a Copa será jogada em estádio de futebol e não de futebol americano, vamos para outras sedes. Não tenho muitas informações, mas imagino que sejam outras sedes, porque têm que ser. O importante é que superamos todos esses inconvenientes.
Despedida de Di María
Acredito que fez uma partida espetacular com a gente, mas a de hoje foi uma das melhores. Mais do que jogar bem, teve atitude para pressionar em momento que as pernas da equipe estavam falhando e começou a correr como se tivesse 25 anos. Mostra a liderança que tem, que é superior a muitos futebolistas. É uma lenda. E já se foi e não tem como convencê-lo a ficar. Queremos que volte uma vez ao menos para se despedir diante de seu povo. Foi uma despedida de cinema como nem em seus melhores sonhos. Ele merece, sinceramente.
Espanha campeã da Euro
Parte da minha família e espanhola e estou feliz. Vivo neste país e estou feliz por essa conquista. Se eles jogarem a Finalíssima, teremos um problema. A família estará dividida, mas será uma partida belíssima, um grande momento para um país que marca uma maneira de jogar diferente. Seria lindo enfrentá-los.
Mesmo nível de Bilardo e Menotti
Não penso nisso. Não tem sentido. Acredito que temos que valorizar tudo o que fizeram pela seleção, foram os primeiros e abriram as portas para termos todo esse amor. Estou feliz e nunca pensei em chegar aonde cheguei. Isso é suficiente para mim. Não sou fanático das estatísticas e o que me importa é que todos estão contentes.
Sequência na seleção
Até quando eu não sei. Sempre falo o mesmo. Não é que tem que ter um final. A gente segue… Se ganhamos, bem. Se não ganhamos, está bem também. A Colômbia fez uma partida que é um caminho a seguir, não é porque não ganhou que tem que tirar todo. Nós ganhamos, mas se não ganhássemos iríamos seguir. Em algum momento, vão nos tirar, mas o bonito deste esporte é se levantar e construir algo. Vamos aproveitar o presente.
Força mental da Argentina
A mentalidade é um fator importante, mas se não jogar bem, não ganha. Mais do que ter sido uma partida disputada, em alguns momentos jogamos bem. Há maneiras e maneiras de vencer uma partida. Pode trocar 50 passes e fazer o gol. Ou trocar cinco e fazer gols. Soubemos conduzir quando a Colômbia nos pressionou.