Pedida por governo, paralisação do Brasileiro afeta 86 mil trabalhadores

O Ministério do Esporte pediu, nesta sexta-feira (10), a paralisação do Campeonato Brasileiro em razão das enchentes no Rio Grande do Sul. Se aceita por clubes e CBF, a medida terá um impacto em pelo menos 85,6 mil trabalhadores que atuam diretamente ligados aos jogos, a maioria deles temporária.

As enchentes em cidades no Rio Grande do Sul já causaram 113 mortes e houve 146 desaparecidos. A capital Porto Alegre ainda está com vários pontos alagados.

A requisição da parada do Brasileiro foi feita por ofício pelo ministro do Esporte, André Fufuca, escolhido pelo presidente Luiz Inacio Lula da Silva. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse que cabe aos Conselhos Técnicos, das quatro séries nacionais, uma decisão sobre o assunto. Ou seja, na prática, são os clubes que devem decidir juntamente com a entidade.

Em seu pedido, Fufuca alegou que “o País está envolvido no apoio aos jogadores e familiares, bem como a toda a população daquela região” para justificar a paralisação.

O tamanho do impacto da parada das quatro divisões do Brasileiro pode ser medida pelo “Relatório sobre o impacto do futebol brasileiro”, estudo feito pela consultoria EY e a CBF em 2018 sobre a economia do esporte.

Pelo relatório, o futebol emprega 156 mil pessoas. Dessas, 55% estão envolvidas nas operações de matchday (dia de jogo), ou seja, na realização das partidas em si. São portanto 85.600 trabalhadores que atuam diretamente nesse setor.

“Os estádios, atrás de seus postos de empregos gerados a cada partida, alimentação e bebidas, são responsáveis por mais da metade do total de postos de trabalho gerados, alcançando aproximadamente 55% do total, reforçando que o principal gerador de empregos do futebol brasileiro é o espetáculo em si”, diz o relatório da EY.

A maioria desses trabalhadores é temporária por evento. A administração do Maracanã explicou ao blog que contrata diretamente 2 mil trabalhadores por jogo com público de pelo menos 50 mil pessoas, como é o caso de Flamengo e Corinthians, marcado para este sábado.

Todos são contratados de forma intermitente, isto é, por evento. Se não houver jogo, não há trabalho e as pessoas ficam sem receber.

O mesmo modelo é adotado em todos os estádios do país já que não há como contratar uma mão de obra grande para trabalhar apenas um dia. São seguranças, vendedores de comidas e bebidas, orientadores, que atuam na operação dos jogos. Além deles, há uma economia informal de vendedores em volta dos estádios, fora movimentação de bares e restaurantes.

A próxima rodada dos Brasileiros das quatro séries, A a D, implica em 55 partidas de tamanhos variados. Todas têm modelos similares de contratação temporária.

Do restante dos empregos do futebol, 33% são funcionários dos clubes de futebol: portanto 51.500 trabalhadores. Durante a pandemia de covid, houve paralisação por quatro meses e clubes ficaram em situação financeira difícil e tiveram de demitir parte de seus quadros. Quase todos fecharam no vermelho no ano de 2020 por causa dos jogos sem público.

O estudo da EY e da CBF também mostra que 88% dos jogadores de futebol do Brasil ganham até R$ 5 mil, sendo que 55% deles recebem salários mínimos. São os clubes que pagam esses proventos mais baixos e eles são os primeiros e mais afetados por uma paralisação do futebol.

O blog questionou o Ministério do Esporte sobre se foi feito algum levantamento sobre o impacto econômico e de empregos antes do pedido de paralisação do Brasileiro e se haveria medidas para mitigar as perdas dos trabalhadores. Não recebeu respostas até o final do dia.

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